Reportagem: Décio Galina Fotos: Felipe Hellmeister / Revista GOL
Diva Guimarães prova que nunca é tarde para continuar lutando: ela conta sua história e mostra que a velhice deve ser tratada com dignidade
Vida de diva
“Quando a idade chega, a gente passa a ter mais clareza das coisas”, diz a paranaense Diva Guimarães, que nasceu em 1939, mas só foi registrada um ano depois, em 3 de agosto de 1940
Professora aposentada, ela tinha 77 anos quando realizou o sonho de acompanhar a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em 2017
Em uma mesa com a participação de Lázaro Ramos, empunhou o microfone na plateia e disparou a falar por 13 minutos e 16 segundos, levando o ator e boa parte dos presentes às lágrimas
O relato cru das inúmeras dificuldades que costuram a existência da professora e como a educação a fez sobreviver ao racismo pôs Diva nas manchetes sobre o evento
“Não sei o que deu em mim. Não tinha planejado falar nada. Foi pura emoção”, relembra ela, que virou celebridade no mesmo dia
Neta de escrava com português, Diva nasceu no mato, em Serra Morena, no Paraná. Graduou-se em fisioterapia e em educação física, tornando-se professora dessa área por quase 30 anos
“Quero defender a importância da educação neste país”, diz ela, que sempre levou essa mensagem aos seus alunos e, na década de 50, também atuou como alfabetizadora
Em uma época em que meninas se casavam com 14 anos, a professora ensinava que era melhor estudar primeiro, ter uma profissão e, depois, pensar em casamento, “para não depender de ninguém no futuro”
Diva é um exemplo de quem, após os 80 anos, não parou de buscar novas experiências. Ela gosta de visitar quilombos e locais ligados aos indígenas
“O pior preconceito que pode existir com uma pessoa mais velha é achar que ela é idiota e só atrapalha”, defende
“O grande desafio da terceira idade é justamente não perder a cabeça, não perder a fé em si mesmo. Temos que aproveitar a vida com o que mais gostamos”
com Maria Alice, sua melhor amiga
“Para o futuro, o que quero mesmo – tenho esperança nisso, vou lutar por isso! – é que todos, independentemente da ascendência, sejamos tratados como seres humanos”